segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Luz?

Era um quarto escuro. Não havia móveis, cor, vida. No escuro, eu sentado em um canto qualquer. Nem um maldito interruptor para ligar a luz. Por sinal, meus únicos momentos de luz eram quando acendia meus cigarros, que passavam pra mim por baixo da porta. Não posso dizer que estava sozinho, nunca estava sozinho. Ou estava acompanhado por uma mescla de pensamentos tristes com auto-piedade ou quando alguém abria a janelinha que ficava no alto da porta. Esses meus pensamentos-sentimentos derivavam dos acontecimentos que haviam ocorrido. Pessoas e coisas que eu perdi, algumas irremediáveis, outras nem tanto. Acontecimentos que me abateram de tal forma, que deixei de ser quem sou.

Sobre essa fresta na porta, podia ver, de vez em quando, olhos sobre mim. Amigos que sabiam que não podiam me tirar daquele lugar, que sabiam que não podiam fazer mais nada por mim além desse apoio. Acompanhavam-me de perto, alguns até expressando um sorriso no olhar, algo que me dizia que eles ainda viam em mim aquele cara forte que já fui por diversas vezes ao lado deles. Olhares de esperança de que um dia me levantaria dali e abriria aquela maldita porta.

De fato, a porta nunca esteve trancada, não pra mim. Bastava me levantar, caminhar naquele escuro vazio e abri-la. Porém não queria sair, tinha medo, pois quando estive lá fora, quando estava encarando todos os fatos e problemas, foi quando tomei todas porradas que podia tomar. Já tinha cansado a muito tempo de ser o super-homem, de enfrentar problemas meus e de outros. Passei do meu limite e, por isso, criei essa zona de conforto onde podia me lamentar todo tempo do que aconteceu comigo e do que sou, do que me tornei e pra onde fui. Mas já estava cansado de lá. Porque, apesar de ter criado isso pra descansar de tudo, estava tão debilitado que não podia mais levantar. Estava muito fraco e assim acabei criando uma prisão para meu consciente.

Até que um dia, alguém teve a coragem de abrir a porta. Uma forte luz entrou neste lugar, forte o suficiente para ofuscar minha visão. Não podia ver quem era, mesmo assim fui invadido por uma certa felicidade. Em seguida veio o medo, pois fazia tempo que não via a luz, o que tinha fora daquele quarto não passavam de lembranças. Respirei fundo, muito fundo, como se tivesse recuperado todo ar que perdi nesses longos meses de isolamento. Agora podia ver um pouco mais daquela sombra esguia que repousava na porta. Vi sua mão estendida e um sorriso encantador pra mim. Desafiei-me a levantar e, para minha surpresa foi muito fácil. Meus olhos agora eram lágrimas, voltei a sentir meus batimentos cardíacos. Longos braços que me envolveram em um abraço terno, sereno, infinito em paz. E por um momento parei de pensar, parei de sofrer. Segurei suas mãos e tive a vontade de viver novamente. E saí, sem ao menos olhar pra trás...

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