sábado, 26 de março de 2011

Cigarro....

O cigarro expressa com fumaça as palavras que eu não consigo dizer. Essa pequena nuvem acinzentada, carregada de sentimentos e pesares, que sobe displicentemente e dissolve-se no ar. Me pego pensando freqüentemente o quanto queria ter esse dom. Mas com exceção da fumaça, creio eu, o cigarro tem muito em comum com a pessoa que o consome. Existe algo que corrói nossa alma e o cigarro se torna a libertação, já que este, corroendo nosso corpo, nos dá passos largos em direção ao fim. Sim, nós fumantes sabemos o quanto isso faz mal, o quanto isso nos agride por dentro. Mas não nos importamos. De forma alguma. E aqueles que não fumam nunca vão entender o significado disso. Dessa aparente idéia suicida que o uso provoca. Exprimo aqui um pequeno resumo. A maioria de nós, que fumam, de alguma forma, já temos algo morto dentro de nós. Algo que pesa. Que nos prende a uma tristeza que muitas vezes é irracional. Incontrolável. Sublime.   E nos sentimos assim. Como se esse peso fosse a brasa vermelha do cigarro. Que, mesmo sem um trago sequer, consome seu corpo em pouco tempo. E restam apenas cinzas, daquilo que já foi um dia. Essa sensação de observar, sentir o cigarro se consumindo, nos dá conforto. Faz-nos sentir menos sozinhos. Apenas saber que não somos os únicos no mundo que somos consumidos de forma voraz por algo que não controlamos. Acredite, essa dor que sentimos é parecida com a cor que faz o cigarro chegar ao seu fim. Sangramos por dentro como o vermelho vivo que a brasa demonstra ao ser tragada. Queria eu que, pelo menos, assim como o cigarro, nossas dores fossem transformadas nesse balé que a fumaça dança ao sair de nossas bocas. Enfim, O que há de se dizer para um fumante não são palavras de recriminação. Nem palavras de consolo. Não precisamos disso. Apenas leia o que nossa fumaça quer dizer e, talvez, você entenderá nosso luto por nós mesmos.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Viagem na mesa de bar...

O que seria o charme? O que trespassa o instinto animal e é capaz de nos envolver em uma vontade quase que incontrolável de conhecer aquela pessoa, de entrar na vida daquela pessoa... Não apenas uma questão sexual. Não apenas aquele desejo alucinante por sexo... Talvez fosse o tão conhecido e discutido charme. Talvez até mais profundo do que este conceito. Mas, de fato, algumas pessoas, apenas algumas pessoas, possuem um mistério no olhar que dá anseio por ser desvendado. Parece uma coceira em nossa alma, que chega a ser agoniante.
Agoniado. Me sinto intrigado. Pois isso é uma pergunta que não se tem uma resposta concreta, absoluta. E parece que essa agonia é cumulativa. Inda me lembro de todos os olhares que me deram essa impressão. Olhares com gosto de escuro. Bom, o que posso fazer além de viver com essa verdade e me comprometer a não deixar que tais mistérios não sejam desvendados? Não. Não há mais nada a ser feito. Afinal, c'est la vie.

terça-feira, 15 de março de 2011

Devaneio de uma madrugada

Solitário novamente. Não sozinho, é diferente. Hoje em dia entendo essa diferença sutil entre ser um cara solitário e ser um cara em solitude. Dessa vez não existe um vazio, um buraco enorme dentro de mim. Aprendí com minhas recentes experiências como esse buraco pode ser preenchido. Por um breve momento, pelo menos me pareceu um breve momento, fui capaz de me abrir de novo, de me entregar de novo e dessa forma fui preenchido de novo por cores e sentimentos. Fase curta que me deu novas experiências, boas e ruins, que me fizeram sentir vivo de novo. Agradeço de mais a pessoa que me proporcionou isso e que me ensinou que sou muito mais que consigo enxergar. Mas agora ela se foi e eu estou aqui novamente. Em meu quarto, em uma madrugada insone, onde tenho como companhia apenas meus cigarros, minha caneca de água, uma televisão velha e meu companheiro computador. A diferença são as dores. Inda sinto dores, inda tenho cicatrizes e novas até surgiram, porém o que torna tudo diferente é minha reação perante os fatos, perante minhas frustrações. Essas cicatrizes me dão mais força pra continuar. Me mostram o quanto sou forte e que ainda estou vivo, apesar de tudo.

A dor é suportável. Às vezes me sinto agoniado, às vezes ainda vem uma onda de tristeza que parece que dói  não só na minha alma, mas que trespassa por meus órgãos. Às vezes não consigo relaxar e parar de pensar um pouco, como essa noite por exemplo. Mas agora voltei a ser aquela fortaleza que já fui um dia. Aquela que meus irmãos tentavam me lembrar mas que eu teimava em esquecer. Voltei a ser eu mesmo, voltei a ter orgulho e confiança. Agora é retomar todo tempo que eu perdí com a minha tristeza. Sorrir dos momentos felizes recentes, como aquele gosto que dá em nossa boca quando ficamos com vontade de comer algo gostoso. Tocar em frente. A palavra de ordem agora é leveza.

Desculpe pelo devaneio, mas precisava disso. Minha alma berra pela escrita, mesmo que eu faça isso dessa maneira horrível.