quinta-feira, 15 de julho de 2010

Nada de mais...

Ando pelas ruas de concreto quebrado da W3. Aqui já foi um grande mercado, uma rua com muita gente, muita vida. Mas tanto tempo passou e... nesse tempo tudo mudou. A vida, as pessoas, eu. Ou talvez apenas eu. Percebo que rôo minhas unhas quando sinto que me machuco. Saindo do devanio pude sentir e ver as coisas à minha volta novamente.Sinto até o cheiro de cigarro que vem das mangas de minha flanela. Acendo um cigarro pra voltar a me distrair. Não posso ficar sóbrio em meus pensamentos, porque se eu voltar a eles, posso não conseguir sair mais. Me dão medo. A angústia que existe dentro de mim....essa ansiedade que cresce. Erros meus, erros de outros. Coisas que criaram um buraco dentro de mim.

Ás vezes me pego pensando sobre como e quando as coisas mudaram, como se tivesse tentando arrumar uma solução pro meu presente. apesar de um lado meu saber que não faz diferença pensar no que aconteceu, pois mesmo que eu ache os porquês, a situação atual não vai mudar. O meu passado inglório não pode me ajudar a carregar meus pesos que acumulei pelo caminho. Mas tenho tanto medo... Já passei por coisas de mais, não tive tempo de pensar, não tive tempo de resposta. Fui uma vítima de situações e acontecimentos maiores do que eu. Perdí o controle a muito tempo.

Deixei de ser eu mesmo a pelo menos um ano. Como se esse cara tivesse nascido a pouco tempo. Mais um cigarro, sei que é algo que só me faz mal e que me aproxima de uma morte terrível, mas, de certa forma, esses pensamentos me confortam. Terminar com tudo de uma maneira trágica me parece divertido. Um final interessante uma peça de drama ruim. Meio clichê, mas ainda com seu charme. bom, que seja. Acho que esse é meu maior problema. Só penso nas coisas que se foram e nas coisas que virão. Acho que faço isso porque não sei onde estou, não o que eu sou. Assim como me pego pensando no que eu queria que as pessoas fizessem por mim. Essa idéia egoísta de voltar a ter um vida segura e colorida, mas hoje é tudo apenas tons de preto. Apesar de parecer trágico o que eu digo aqui, já tive uma vida feliz, num curto período de tempo, mas já fui pleno.

Merda... voltei a pensar. Entro no supermecado e vou para a parte da lanchonete. Um café é do que eu preciso.Peço um expresso duplo. O café daqui não é dos melhores que eu já tomei, mas me mantém acordado. Uma cidade nova com problemas de cidade velha... Como pode a capital ter passado já por tantas coisas? Tantas coisas feias... Corrupção, assassinos em série, fraudes... Assim como tantas coisas aconteceram comigo. Mesmo de pouco idade, já passei por coisas que gente com o dobro da minha idade ainda não sentiu na pele. Gostaria de ser uma pessoa comum com problemas pequenos. Pelo menos depois de tudo que passei, me parecem pequenos, quem sou eu para julgar?

Pequenas brigas de namorado, brigas com a mãe por incompatibilidade de idéias, dor de dente, sei lá... Essas coisas que pessoas e vidas normais têm. Bom, quem sabe um dia... Só queria parar de me sentir só. Não é uma solidão de carência afetiva ou de sexo. Uma solidão de sentimentos, de pensamentos. Ter essa incerteza de não achar uma pessoa que pense e sinta como eu. E que se achar, tal pessoa queira me acompanhar. Tenho pessoas que chegam muito perto disso e que me ajudam a caminhar nessa merda de estrada que eu tenho que seguir. Mas ainda sim, não vejo... Meu relógio toca me alertando que está perto do horário de minha aula. Devo subir.