quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Primeiro Ato - segunda parte.

Depois de mais um dia de trabalho honesto e sagrado, decido que hoje mereço de um gole pra me sentir feliz ou, pelo menos, ter essa ilusão. Pego meu carro, ponho um cd antigo onde encontro clássicos do blues que conseguem expressar como eu me sinto. Dirijo até um pub antigo, um recanto de música boa e bebidas caras. Realmente preciso de um gole pra libertar esse peso das coisas que carrego em minhas costas.

Entro no pub. Um Jazz de melodia triste conduz o ambiente a um clima charmoso. Ao sentar, peço aquele duplo sem gelo. Meu cigarro cospe uma fumaça que preguiçosamente desaparece. Ponho meu chapéu sobre o balcão. Meu chapéu de estimação. Uma das minhas relíquias. Brinco com as cascas dos amendoins que mastigo. Um cowboy pára em minha frente. Divago como minha vida está chegando à conclusão que esta se parece com uma dança descompassada: Por mais bela que fosse a música, o espetáculo seria grosseiro. O gole foi grande o suficiente pra que eu fizesse uma careta.

Um homem de meia idade, calvo e um pouco acima do peso, parou ao meu lado e pediu duas cervejas. Olhou-me e deu um sorriso simpático, como se quisesse iniciar uma conversa enquanto espera as bebidas. Olhei para o outro lado enquanto tragava meu cigarro. Gargalhadas. Talvez causadas por embriaguez, talvez a demonstração ou imitação de contentamento após uma piada sem graça. Percebendo minha solidão e como anda minha vida, pensei que poderia ser a vítima dessa gargalhada esdrúxula – eu posso ser a tal piada. Mirei na pessoa que havia disparado aquele estrondo. Uma loira de olhos claros e dentes brancos. Seu olhar vivo demonstrava uma felicidade real, quase travessa. Acompanhada de um homem de aparentemente a mesma idade, se divertia após algumas doses. Mais um gole, mais um trago.

Olhei em volta mais uma vez. Nesse ambiente que cheira a boêmia, sinto-me refugiado. Como se meus imaculados problemas recusassem o lugar profano. Minha cruz fugindo do diabo. O fogo da bebida e a fumaça do cigarro exorcizando minha realidade. Peço outra dose. Cigarro queimado, outro na boca.

Observando, sinto-me observado. Grandes olhos castanho-escuros. Um rosto de expressividade firme, autoconfiante, sedutor. Tudo emoldurado por longos e lisos cabelos pretos. De sua boca rosa e delicada surgiu um sorriso enigmático, provocativo. Matei meu copo em um gole. O barman servia novamente. Esse momento de distração foi o suficiente para perdê-la de vista. Teria ido embora? Não me forcei a procurar. Nem precisei. Um doce e venenoso perfume arrebatara-me. Sua presença repentina e o poder de sua atidude esmagaram qualquer defesa, qualquer resistência minha. O demônio sorria para mim. A conversa começou com um “ posso me sentar ao seu lado?”.

O Impacto passou e aquela velha e boa sensação de conquista surgiu. Depois que o impacto passou me sinto bem para prosseguir. Fluiu. A conversa e os joguinhos foram acontecendo de forma espontânea e duraram mais do que consegui controlar ou imaginar, me fazendo perder a noção do tempo. Tinha que voltar pra casa. Esse “happy hour” demorou mais que imaginava. Ou podia. Comecei com aquele papo para promover minha retirada. Foi mais difícil que imaginei. Não conseguia, estava preso em sua teia de sedução e boa conversa. Sua presença era muito forte, além de ser muito gostosa. Faz muito tempo que isso não acontece comigo, se é que já aconteceu e, se já, nunca dessa maneira.

Quando comecei a me despedir, aconteceu o clima. Meu coração estava mais rápido que meus pensamentos. Tenho que ir. Fui beijar seu rosto como um último cumprimento – ou um agradecimento pela noite agradável que a muito não tinha. Ela se virou e meus lábios tocaram os dela gentilmente. Rápido e suave como um romance de verão. Apenas um roçar, um toque, seguido de um sorriso. Esse demonstrava vontade, desejo, queria mais. E não era apenas por parte dela.

Mas não posso me permitir a isso. Não posso fazer isso com quem amo, apesar da minha situação conjugal. Além do meu filho. Isso realmente não é um exemplo de hombridade que posso dar, já bastou o que tive que passar com meu pai. Sorri de volta, peguei meu chapéu e simplesmente fui. A deixei sem olhar para trás. Ao sair, mais um cigarro. Mais um suspiro. Liguei o carro. Fui pra casa.

2 comentários:

  1. quero soh ver o resto... essas historias picadas me deixam mt curiosa... kkkk


    ;*

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  2. Ui... que dia interessante, hein Average Man...

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