32 anos de idade. Funcionário público na terra dos funcionários públicos, ou seja, sem expectativa ou realização profissional. Apenas conformidade e rotina, mas pelo menos tenho o pão de cada dia. Uma esposa e um filho. 13 anos de casado e um moleque de 10. Ele me chama de velho... hmmm! Estou bem pra idade que tenho. Afinal, quem não tem uma barriguinha?
Ela entra no quarto. Cabelos castanhos e longos. Começam ondulados e terminam em grandes caracóis. Ela está bem pra idade que tem. É sério, dessa vez é sincero. 29 anos e uma linda bundinha. Ela olha pra mim com aquela cara de desagrado, a mesma que vejo a pelo menos uns dois anos, quando tudo começou a desandar.
-Você não vai levantar, não?
Respondo a ela com um sorriso sarcástico. Não que eu tenha deixado de amá-la, mas esfriou muito com o tempo. Erro dos dois. Deixamos passar muita coisa. Importamo-nos de menos. Quando percebemos, Bum! A bola de neve veio e nos abateu. Mas não importa agora. Como nunca importou. Somos apenas mais uma família comum em sua constante crise e isso, ultimamente, têm conseguido me irritar pra caralho.
- Estou indo, meu bem.
Esse é basicamente o maior diálogo que temos em dias comuns, excluindo, é claro, os cumprimentos. Tentamos ser educados na maior parte do tempo. Temos que ser um exemplo pro moleque.
Pego minhas roupas e vou pro banho. Costumo gastar 20 minutos em um dos meus maiores prazeres do dia. Claro que trepar é o maior deles, mas não faço um daqueles bem feitos há tanto tempo , que nem o considero mais. Agora pra mim, sexo no casamento não passa de um mito. Tomo um café fumando meu cigarro encostado na janela. Meu garoto chega com cara de sono e uniforme do colégio. O rosto de puto por ter acordado cedo me faz bem, porque assim não me sinto o único preguiçoso.
- Bom dia pai da cara amassada.
- Bom dia babador de travesseiros.
Enquanto ele senta-se à mesa, recarrego meu café e sento na frente da TV pra ver e, se possível, imaginar como vai ser meu dia hoje. Quente, pra variar. Assassinatos corriqueiros, a política fabulosa do nosso país. Nada que me agrade. Mudo pro desenho animado. Tarde de mais, temos que ir. Deixar a mulher no trabalho, o moleque no colégio e ir pro melhor emprego do mundo – o sonho de muitos por aqui e meu pior pesadelo. Redigir redações oficiais de algum babaca superior e bater carimbos. Emocionante.
realmente... emocionante. Melhor que ficar destribuindo panfletos em sinal de trânsito, pelo menos é um trabalho ao ar livre. Claro, não que isso seja bom.
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